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A Inquisição de Goa

Descrita por Charles Dellon (1687)





















Autor: Charles Dellon
Estudo, edição e notas: Charles Amiel e Anne Lima
Tradução do francês: Bruno Feitler
480 páginas
R$ 62,00
ISBN 978-85-60584-05-5
Inclui dossiê iconográfico, bibliografia e índice.

Ao ser publicada em 1687, a Narração de Dellon foi o primeiro livro lúcido e destinado a um vasto público, não somente sobre a Inquisição na Índia portuguesa, mas também sobre os tribunais da fé da época em geral.

A obra transformou-se num best-seller – sendo imediatamente traduzida para o inglês, o alemão e o holandês – e gozou de um sucesso duradouro, tendo um papel capital no combate à intolerância na época das Luzes. Voltaire inspirou-se nela em Cândido; Limborch, Montesquieu, o abade Morellet, Beccaria, Buchanan, entre outros, fizeram eco nos seus escritos deste testemunho com ares de romance de aventura, mas que igualmente se revela um temível panfleto político e religioso.

A Narração é cativante, de estilo agradável e depurado. Nela são minuciosamente descritos os infortúnios de um jovem cirurgião francês que embarcara para as Índias orientais em busca de aventuras, e que foi preso por razões pouco explícitas pela Inquisição de Goa, capital das colônias portuguesas no Oriente. Nos deparamos no livro com as estratégias de Dellon para sobreviver durante os mais de dois anos em que ficou preso nos cárceres do tribunal indiano. Consumido pela solidão e a incerteza que pairava sobre as causas do seu processo, ele chegou a tentar o suicídio. Entremeado a esse relato, Dellon explica o funcionamento da Inquisição, seus tortuosos métodos para condenar os mais diferentes tipos de delitos e perseguir qualquer pessoa que contestasse seu tremendo poder.

Este livro, que se insere no âmbito da literatura de viagens, contém relatos da vida no oriente português e uma descrição de Lisboa, mas também três saborosos capítulos sobre o Brasil, nos quais são contadas as peripécias de várias personagens e as doenças locais, foco permanente de interesse do médico-autor.

A Inquisição de Goa é também um álbum de imagens. Neste livro publicou-se pela primeira vez uma série de gravuras bastante refinadas e rigorosamente exatas sobre a sala de audiência da Inquisição, as diferentes vestimentas penitenciais (os sambenitos), a procissão do auto da fé, a leitura pública das sentenças, as fogueiras. Na verdade, toda a iconografia sobre a Inquisição hoje em dia conhecida, emana originalmente do livro de Dellon, e é em parte reproduzida num importante dossiê iconográfico.

O relato de Dellon é acompanhado de um estudo crítico da própria obra, de suas diferentes edições, do seu impacto na própria época e a influência que teve sobre muitos filósofos iluministas em suas críticas à intolerância e ao poder absoluto da Igreja. Nesse estudo, Charles Amiel e Anne Lima, grandes conhecedores da história da Inquisição, também nos contam o que foi essa instituição e fazem um profundo estudo de todas as ambiguidades da personagem do próprio Dellon.


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AS LÍNGUAS DO PARAÍSO


Arianos e semitas: um casamento providencial



Autor: Maurice Olender
Prefácio: Jean-Pierre Vernant
Tradução do francês: Bruno Feitler
260 páginas
R$ 41,00
ISBN 978-85-60584-04-8


Um dos livros mais bonitos que conheço sobre o tema (…) extraordinário e que cito com frequência. (Umberto Eco)

A espantosa história da filologia comparada do século XIX, intimamente ligada à ciência das religiões e contada por Maurice Olender no respeito de toda sua complexidade e contradições. (Jacques le Goff)


Referência incontornável, As Línguas do Paraíso, do arqueólogo e filólogo Maurice Olender, foi traduzido em mais de doze idiomas e foi premiado pela Academia francesa em 1990. No primeiro capítulo o autor já levanta a instigante questão sobre a língua utilizada no Éden: "no Jardim do Paraíso, Adão, Eva, Deus e a serpente falavam hebraico, flamengo, francês ou sueco?"

Na busca de compreender como famosos eruditos passaram do estudo da linguagem para a formulação de uma teoria das raças, o autor mostra como isso não se deu por meio de métodos científicos, mas pelo tradicional prisma religioso e, mais tarde, nacionalista, que serviu finalmente de base para os acontecimentos mais horripilantes da nossa história recente.

"Línguas do Paraíso, ou seja, estado primevo da linguagem, ponto de arrimo no qual o falar humano se enraíza na Palavra em seu estado puro, seja a Palavra de Deus ou a do mundo, da natureza que Deus criou em sua totalidade, tirando-a do nada, pela força de seu Verbo." 
(do prefácio de Jean-Pierre Vernant)


MAURICE OLENDER (1946) é arqueólogo e filólogo de formação, professor da École des hautes études en sciences sociales de Paris e professor convidado em universidades de vários países. É autor de Race and Erudition (Harvard University Press, 2009), dirige a revista Le Genre humain desde a sua fundação e a coleção “La Librairie du XXIème siècle”, nas edições do Seuil.

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A INVENÇÃO DA TERRA

 


Autor: Franco Farinelli
Nota de Sergio Valzania
Tradução do italiano: Francisco Degani
144 páginas
R$ 27,00
ISBN 978-88-60584-03-1

Antes da invenção dos aviões, nunca ninguém havia visto o mundo do alto, até o alpinismo é uma experiência recente. Contudo, a cartografia desenvolveu-se desde a Antiguidade e não foi um processo nada simples, linear ou compartilhado. Farinelli nos explica quanto trabalho, pesquisa e fantasia foram precisos para construir uma visão de mundo. (da nota de Sergio Valzania)


A INVENÇÃO DA TERRA do geógrafo Franco Farinelli, em tradução inédita do italiano, conta em linguagem instigante e acessível a história da percepção que temos do território, da extensão da terra e do universo. Desde os relatos fundadores da Bíblia até o tempo dos satélites, o livro conta como essa percepção se transformou, e quais foram as consequências para o modo como observamos o viver no mundo.

Quando o mundo era muito menor, em grande parte desconhecido, os territórios desbravados eram apenas uma antecipação parcial de outros terrenos misteriosos. As representações da Terra, ainda como Cosmo, tinham provavelmente, outra função, ou a mesma de maneiras diferentes. A Terra, pode-se dizer e passível de ser representada mais como uma ordem provida de sentido do que como uma mera extensão.

A evolução da geografia – do Gênesis e do Enuma Elish babilônio até a cartografia moderna – surge como a história de um progressivo desencanto: do Mundo à carta geográfica. O autor mostra como, através de cosmogonias, cosmologias e cosmografias, o vago e mítico universo-total, lenta e laboriosamente, pariu a Terra.


FRANCO FARINELLI (1948) é autor de vários livros sobre a Geografia e suas interpretações, e lecionou a disciplina em Genebra, Los Angeles (UCLA) e Paris (Sorbonne e Ecole normale supérieure). Atualmente é professor da Universidade de Bolonha e presidente da Associação dos Geógrafos Italianos.

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A Arte de Peidar. Ensaio teórico-físico e metódico

para o uso das pessoas constipadas, das pessoas graves e austeras, das senhoras melancólicas e de todos aqueles que insistem em permanecer escravos do preconceito

De Pierre-Thomas-Nicolas Hurtaut
Prefácio de Antoine de Baecque
Tradução de Bruno Feitler
96 pp. R$ 23,00
ISBN 978-85-60584-02-4

Ser escravo do preconceito pode custar caro. Foi o que aconteceu com uma mulher que, por vergonha, deixou de peidar aos doze anos, sofrendo assim dores e cólicas atrozes... Esta anedota, entre muitas outras, é contada por um erudito do século XVIII, Pierre Thomas Nicolas Hurtaut, para quem peidar era uma arte, e o peido bem solto, uma arma social.
Publicado em 1751, este livro tornou-se rapidamente um clássico da literatura cômica e pseudo-médica. Com uma precisão pouquíssimo convincente para a medicina, mas muito divertida para os espíritos tortos, Hurtaut mostra toda a diversidade dos peidos, que classifica segundo sua musicalidade, e descreve os diferentes modos de prolongá-los, modulá-los ou de diminuir suas sonoridades.
Pois, leitor, no fim das contas, não é uma vergonha que, apesar de peidar desde sempre, você ainda não saiba como o faz, nem como o deve fazer?

Na net: http://caracterescomespaco.worldpress.com/2010/02/03/peido-pum-peidinho-e-peidaco/

à venda na Livraria Cultura http://www.livrariacultura.com.br/ (SP/PE/RS/DF)
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Na imprensa:

Memórias secretas da princesa do Brasil: as quatro coroas de Carlota Joaquina



(tradução revista)

De José Presas
Prefácio de Laura de Mello e Souza
Tradução de R. Magalhães Jr.
ISBN 978-85-60584-01-7
248 pp. R$ 36,00

Nascida infanta de Espanha e princesa do Brasil por seu casamento com o príncipe herdeiro d. João, não bastou a Carlota Joaquina a certeza de se tornar um dia rainha de Portugal. Enquanto esteve exilada no Rio de Janeiro, ela reivindicou o trono espanhol de seu irmão Fernando VII, preso por Napoleão, e também uma inexistente coroa platina, que englobaria os territórios espanhóis na América. Estas Memórias Secretas, escritas por seu vingativo secretário, contam, a partir de um ponto de observação privilegiado e em estilo único, as intrigas políticas da princesa, sem deixar de aludir a outros episódios acarretados por um caráter explosivo e irriquieto. Depois do fracasso de seus projetos, e após a independência do Brasil, Carlota nem por isso deixou de arvorar o título de imperatriz.

Imperatriz do Brasil, rainha de Portugal, rainha de Espanha e rainha do Prata, eis as quatro coroas de Carlota Joaquina. Fazendo valer a altíssima dignidade de sua linhagem, ela tentou como poucas se impor politicamente em uma época na qual cada vez menos se esperava que uma mulher, por mais nobre que fosse, se metesse a governar.

Distribuição própria.
À venda on-line nas livrarias
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Saiu na imprensa:

Estadão. Caderno 2 Domingo, 17/05/2009

Os segredos que o tempo revela
Memórias Secretas da Princesa do Brasil é fonte fundamental para entender a polêmica Carlota Joaquina
por Lilia Moritz Schwarcz
Alguns livros podem, e devem, ser lidos de trás para frente - ao revés -, e Memórias Secretas da Princesa do Brasil, de José Presas, é exemplo gritante dessa prática pouco usual. Escrito em 1830 pelo ex-secretário particular de Carlota Joaquina, que diz ter "trabalhado diariamente ao lado da princesa por quase quatro anos", de 1808 a 1812, a obra não passa do relato de um ressentido que, diante do não recebimento do salário (cuja conta apresenta em detalhes), resolve narrar intrigas palacianas, as quais teria presenciado em lugar e momento privilegiados: no contexto em que a Corte portuguesa andava estacionada no Brasil, fugida de Napoleão Bonaparte.

Se o documento tivesse restado perdido, e entregue à sua real dimensão, não haveria motivo para festejar a nova publicação, até agora considerada muito rara no Brasil. O problema é que o livro foi reproduzido inúmeras vezes, e transformou-se - nesse lento movimento do "quem conta um conto aumenta um ponto" - na fonte fundamental para entender essa personagem polêmica chamada Carlota Joaquina, bem como o movimento do Carlotismo - que levou a princesa a lutar, no Brasil, pelo trono da Espanha e das colônias espanholas na América, e a imiscuir-se em todo tipo de manobra política.

Conforme escreve Presas no prefácio da obra: "Se não é coisa nova, tampouco é inútil ou desagradável apresentar ao público os acontecimentos do passado... a liberdade é a alma da história." De fato, o secretário contrariado esmera-se em desenhar o perfil controverso de Carlota; aquele que ficaria guardado na memória oficial. Sem travas fáceis, nosso relator encontraria na princesa personagem das mais indicadas: comenta seus gastos excessivos - a mala de sapatos e o consumo elevado de joias; ironiza o apetite sexual da dirigente, que encontrou saindo de seus aposentos "com o semblante risonho e aceso, como quem acaba de dançar ou fazer outro tipo de exercício violento"; o hábito inveterado de falar mal do esposo d. João; os amigos "efeminados"; ou as expressões vulgares que "ofenderiam a moral e a decência se aqui fossem repetidos".

Mas José Presas, um aventureiro espanhol que chegou ao Brasil apenas a tempo de se safar de uma confusão em Buenos Aires, tinha e não tinha razão nas suas descrições ferinas. De um lado, elas não seriam tão secretas assim, uma vez que, como mostra Laura de Mello e Souza em excelente introdução, no texto descrevem-se mais urdiduras diplomáticas do que intimidades compartilhadas. Além do mais, se Carlota possuía temperamento dos mais intempestivos - e os bilhetes reproduzidos servem como prova -, era também a pessoa errada no lugar certo e vice-versa. Num tempo em que mulheres não faziam política, ela foi antes de tudo uma ativista; em meio à Corte portuguesa, na qual adentrou por laços de casamento, nunca deixou de pensar e se sentir como espanhola.

O contexto também não poderia ser mais apimentado. Os Bourbons espanhóis haviam feito uma política em tudo enganosa e, a despeito de terem se unido aos franceses, facilitando inclusive a invasão de Portugal, acabaram caindo na armadilha de Bonaparte: perderam a coroa em junho de 1808. Carlota, portanto, mal havia chegado ao Brasil quando passou a arquitetar uma maneira de, no impedimento do pai e do irmão, ocupar o trono; já que estava ao abrigo do conturbado ambiente europeu.

A princesa era obstinada, intrigante, mas também inteligente e instruída, ainda mais quando comparada à média da intelectualidade local. Quem sabe Carlota mirasse o exemplo de outras reinantes; sobretudo Isabel de Castela, o grande modelo para qualquer uma que pretendesse tomar as rédeas de Governo. Presas não era, entretanto, homem afeito a esse tipo de novidade. Ao contrário, em nome de rever seu dinheiro amargamente merecido ("nada de dormir, dizia ela, só trabalhar e andar para a frente"), transforma seu depoimento numa sucessão de lamúrias, e jamais perde a oportunidade de avacalhar as pretensões da princesa: "Se para governar não fosse necessário falar, talvez as mulheres governassem melhor que os homens."

Não obstante, nesse tempo dado a contradições de toda ordem, parecia difícil manter lealdades a uma bandeira só. Carlota e seu secretário eram, ambos, representantes de dois ou muitos mundos, e por isso oscilaram aos sabores dos ventos, temperados por nações poderosas como França e Inglaterra. Carlota tentaria tornar-se dirigente, ao menos das colônias espanholas na América, mas em vez do sucesso ganharia o isolamento: foi detestada pelos ingleses, colocada de escanteio por d. João (sempre temeroso de seus golpes) e transformada num espécie de rainha má, a madrasta dos brasileiros, descrita a partir de seus costumes descontrolados, seu caráter brigão e sua aparência por demais masculinizada.

O panfleto seria publicado, porém, tarde demais: apenas em inícios de 1830, quando a rainha viúva entregava a alma ao Criador. Endividada, ela morreria sem experimentar o dissabor de ler as duras palavras de Presas. O ex-secretário não seria ressarcido, mas talvez se sentiria vingado se tivesse conhecimento da difusão que a obra recebeu: não há livro de história do Brasil, da Espanha ou de Portugal que não se remeta ao documento na hora de caracterizar a "voluntariosa" princesa que, mesmo sem querer, ficou atada à trama da história de seu intrigante. Afirmava ele que de nada adiantava rogar a Deus, dotar conventos e igrejas ou encher de donativos frades folgazões. Carlota seria mesmo vítima da máxima de Racine, devidamente evocada por nosso insistente secretário nas conclusões de seu livro: "Não há segredo que o tempo não revele."

Lilia Moritz Schwarcz, professora do Departamento de Antropologia da USP, é autora, entre outros, de O Sol do Brasil (Companhia das Letras)


Folha de S. Paulo / Ilustrada 17/01/2009

NÃO-FICÇÃO
História
Memórias Secretas da Princesa do Brasil
JOSÉ PRESAS
Editora: Phoebus; Tradução: Raimundo de Magalhães Jr.; Prefácio: Laura de Mello e Souza; Quanto: R$ 36 (247 págs.)
SOBRE O AUTOR: Espanhol da Catalunha, secretário e homem de confiança de Carlota Joaquina, testemunhou os acontecimentos que transformaram o Brasil entre 1808, quando a família real portuguesa chegou ao país, e 1812.
TEMA: As intrigas políticas de Carlota Joaquina, princesa do Brasil, casada com d. João, e que reivindica, entre outras coisas, o trono espanhol de seu irmão, Fernando 7º.
POR QUE LER: Publicado originalmente em espanhol, em 1830, este livro sobre o episódio histórico conhecido como Carlotismo teve sua primeira tradução em português em 1940. Não era reeditado no Brasil desde 1966.

Nas malhas da consciência: Igreja e Inquisição no Brasil


de Bruno Feitler
Co-edição Phoebus/ Alameda 2007
292 pp. R$ 38,00
ISBN 978-85-98325-47-7

Este é um livro que se destaca, em nossa historiografia, pela sua originalidade. Originalidade temática, documental e, sobretudo, na concepção do objeto. Pois se é verdade que as pesquisas sobre a história inquisitorial no Brasil cresceram muito nas últimas décadas, em número e qualidade, poucos têm focalizado os aspectos propriamente institucionais e políticos da ação inquisitorial.
De modo geral, têm prevalecido estudos sobre os hereges perseguidos pela Inquisição, em especial sobre os cristãos-novos, sempre suspeitos de judaizar, mas também sobre as feiticeiras, sodomitas, solicitantes, fornicários, blasfemos. Uma plêiade de desviantes, cujas heresias eram temperados pelas mesclas culturais típicas do “viver em colônias”.
A abordagem de Feitler é diferente. Desloca o foco para a própria máquina inquisitorial, priorizando Pernambuco como cenário. O livro expõe, em detalhe, os instrumentos de atuação do Santo Ofício na capitania desde o século XVI ao XVIII, o que permite ao leitor acompanhar o crescente adensamento deste sistema de vigilância das consciências. Apresenta, igualmente, a formação dos quadros, a rede de familiares e comissários que tornou possível a ação do Santo Ofício em terra tão avessa à ortodoxia católica. Desvenda a estreita conexão entre ação inquisitorial e justiça eclesiástica, sublinhando o papel decisivo do episcopado no rastreamento das heresias.
O leitor que presume ter a ação inquisitorial em Pernambuco se limitado à visitação quinhentista, vai se deparar com um sistema muito mais complexo, quer do ponto de vista jurídico-administrativo, quer do ponto de vista político.
Trata-se de um livro de história institucional que, no entanto, se desdobra em historia social e política. Basta citar, como exemplo, o enfrentamento da questão sobre o não estabelecimento, no Brasil, de um tribunal do Santo Ofício, embora a máquina montada na colônia tenha dado conta do recado.
Bruno Feitler nos mostra como e por que isto se deu, ancorado em farta pesquisa arquivística e bibliografia impecável. De modo que este livro cumpre o que mais se pode desejar de uma pesquisa histórica. Ele traz muitas novidades, e o faz com consistência, erudição e elegância.

Ronaldo Vainfas
Professor Titular de História Moderna
Universidade Federal Fluminense

Distribuição das Malhas da Consciência: www.alamedaeditorial.com.br
À venda nas livrarias